Inclusão

Jeifor e Semana TEA reúnem IFG e outras instituições em prol da inclusão

“Temos a responsabilidade de promover conscientização e acolhimento de todas as pessoas, independente de suas diferenças”, afirma reitora do IFG, durante os eventos

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Coral da APAE-Formosa canta Hino do Autista, na abertura dos eventos, na UEG
Coral da APAE-Formosa canta Hino do Autista, na abertura dos eventos, na UEG

Respeitar o outro e suas especificidades foi o “recado” deixado pelos quase 30 profissionais que passaram pelo Câmpus Formosa do Instituto Federal de Goiás (IFG) e pelo Câmpus Nordeste da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na última semana, ministrando palestras, oficinas, mesas-redondas e relatos de experiência na III Jornada da Educação Inclusiva de Formosa (Jeifor) e II Semana de Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os eventos foram promovidos pelo Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) do Câmpus Formosa.

Banda Baião de 2 abre o evento, no Auditório da UEG

Na abertura, realizada na UEG na noite do dia 1º de abril, estavam presentes mais de 230 pessoas, que assistiram à apresentação musical da Banda Baião de 2, idealizada pelos arte-educadores Kaká Taciano, Flávio Leão e Cláudio Bello, e pelo músico Daniel Sousa. O projeto inclui pessoas com necessidades específicas (PNEs) da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do Distrito Federal. Além da banda, o coral de alunos e alunas da APAE de Formosa completou a programação cultural da noite, cantando o Hino do Autista.

Diversas instituições e profissionais  participaram dos eventos da semana, mostrando que a inclusão é um tema que reúne legiões. Dentre eles, estavam representantes do Ministério do Desenvolvimento Humano e da Cidadania (MDHC), da Universidade Estadual de Goiás (UEG), da Universidade de Brasília (UnB), do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES), das APAEs de Brasília-DF e de Formosa, da Associação de Pais e Pessoas com Autismo de Formosa (APPAF), do Movimento Orgulho Autista Brasil (MOAB) e Instituto TeOrizar.

 

Desafios

Reitora (ao centro) e servidores do IFG no evento

A reitora do IFG, professora Oneida Cristina Gomes Barcelos Irigon, esteve presente para prestigiar o evento. Acompanhada dos pró-reitores de Ensino e Administração, Maria Waleska Lopes Viana e Diego Silva Xavier, e da servidora do Câmpus Goiânia Oeste, Ana Beatriz Machado de Freitas, a reitora reforçou a importância da Jornada: “É de extrema relevância, porque visa promover aqui um diálogo, e mais que um diálogo, a reflexão sobre temas que ainda carregam muitos estigmas e desafios em nossa sociedade, haja vista que versam sobre necessidades e direitos de pessoas com deficiências e outras necessidades específicas”.

“Meu coração se enche de alegria ao ver a estrutura que o IFG oferece aos alunos que precisam de um atendimento especial”, expressou Flávia Gomes dos Santos Nascimento, mãe de aluno egresso e de aluna caloura do curso Técnico Integrado em Biotecnologia, durante a roda de conversa “A inclusão no Instituto Federal de Goiás e o papel dos Napnes: desafios, êxitos e projeções”, do dia 3.

A gestora falou da consciência da Instituição enquanto promotora da inclusão.  “O papel da nossa instituição de ensino é fundamental, porque temos a responsabilidade de promover conscientização e acolhimento de todas as pessoas, independente de suas diferenças, e, para além disso, temos que criar condições para que o ensino-aprendizagem com acessibilidade arquitetônica comunicacional, tecnológica e didático-pedagógica aconteça”.

Oneida pontuou os muitos desafios que a Instituição tem enfrentado, dentre eles, a infraestrutura, que, segundo ela, “não é [um desafio] só do Instituto Federal de Goiás, mas de toda a nossa Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica”. A escassez de códigos de vaga e de recursos para contratações a fim de recompor a força de trabalho dos IFs impacta diretamente no serviço prestado na área de inclusão. “Enquanto instituição, precisamos oferecer esse suporte psicológico, de assistência social e psicopedagógico para possibilitar o acompanhamento adequado no que concerne às dimensões do desenvolvimento humano que impactam na aprendizagem”, declarou. 

“Juntos e juntas somos muito mais fortes do que um trabalhando sozinho”, disse Oneida Irigon, reitora do IFG

No entanto, algumas estratégias estão sendo adotadas para driblar os desafios, como a busca por parcerias com outras instituições de ensino, organizações não governamentais e empresas; inclusão da pauta em eventos e documentos institucionais, como o Seminário de Assistência Estudantil e o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI); fomento ao interesse por produção de pesquisa na área da educação especial e por estágio nos Napnes dos Câmpus; e realização de eventos formativos.

Também fizeram parte da Mesa de Abertura o coordenador-geral de Diversidade e Interseccionalidade do MDHC, Raul de Paiva Santos; a pró-reitora de ensino, Maria Waleska; o diretor-geral do Câmpus Formosa, professor Thiago Gonçalves Dias; a coordenadora dos eventos, professora Gláucia Mendes Silva; a coordenadora do Câmpus Nordeste da UEG, professora Arlete Botelho e a gestora pedagógica da APAE-Formosa, Lilian Leal Soares Pascoal.

Raul de Paiva, representante do MDHC

O representante do MDHC, Raul de Paiva fez um apanhado do avanço dos direitos das pessoas com deficiência ao longo dos anos e mencionou o Novo Plano Viver sem Limite, lançado pelo Governo Federal, nos meses finais de 2023.  “Estivemos em mais de 15 Estados para ouvir as demandas da população com deficiência para a construção do Novo Plano Viver sem Limite. Este ano, o Plano está sendo lançado nos Estados”.

O Plano Viver sem Limite institui a política nacional da pessoa com deficiência. “Em relação à nossa política nacional, de 2016 a 2022, o Estado Brasileiro passou por alguns desmontes e a pessoa com deficiência não ficou de fora disso. Tem sido um trabalho bem difícil de atuar com um recurso pequeno na nossa secretaria, mas ouvindo sempre a população”, declarou Raul. “Essa coordenação reconhece que não existe um único tipo de pessoa com deficiência, existem pessoas com deficiência que também são impactadas por questões de gênero, de raça, de território, dentre outros”, assumiu o coordenador-geral.

 

Autismo

Na terça-feira (2), o público assistiu a uma mesa-redonda com três profissionais da área de inclusão, a servidora da Pró-Reitoria de Ensino do IFG, Ana Beatriz Machado de Freitas; a psicóloga especialista em TEA, Flaviana Martins; e a presidente da APPAF, Paula Faria, no Auditório da UEG.

No Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, as três palestrantes falaram sobre o assunto, mas sobre perspectivas diferentes. Ana Beatriz se aprofundou na Teoria das Inteligências Múltiplas; Flaviana mostrou as implicações nos processos educacionais do adolescente com TEA; e Paula tratou sobre o autismo em Formosa.

Ana Beatriz aborda a Teoria das Múltiplas Inteligências

A Teoria das Múltiplas Inteligências, de Howard Gardner, sugere que cada pessoa tem suas próprias potencialidades. No entanto, mais do que qualquer outro, quem tem autismo ainda enfrenta estereótipos. Por isso, Ana Beatriz explicou os diversos espectros de inteligência, desmistificando os estigmas do autista. “Pessoas que têm a inteligência corporal sinestésica mais desenvolvida não serão aquele aluno que vai suportar ficar sentado olhando para o quadro o tempo todo”, esclareceu. Ou seja, o movimento pode ser justamente o fator que ajuda a pessoa a obter a compreensão de algo.

Flaviana Martins trata das implicações educacionais no TEA

Para Flaviana, não é simples para os pais lidar com o TEA. “O autismo não é fácil. Os pais amam seus filhos com todas as suas forças, mas não amam o autismo, porque traz dor, dificuldade, um dia a dia bem complicado, bem complexo. É uma luta diária por direitos tão pequenos, por acessibilidade, por terapias, medicações”, justificou a psicóloga.

Paula Faria apresenta a APPAF ao público

Na sequência, Paula Faria apresentou o trabalho da APPAF, que conta com 320 famílias que “se apoiam, se ajudam, se fortalecem e que buscam pelos direitos das pessoas com autismo e das famílias”. “Muitas vezes, a realidade da família autista, nem o próprio cônjuge apoia, nem os pais, nem a família. A mãe arca sozinha. Sozinha, para cuidar de uma criança que ela não sabe como fazer”, relatou Paula, sobre as dificuldades enfrentadas.

“Nós temos que valorizar a capacidade de todos, não é só do autista, não é só da pessoa com deficiência. Se a gente respeitasse o limite dos outros e tentasse desenvolver as suas capacidades, a gente não precisaria tanto falar sobre isso”, afirmou Paula Faria.

 

Relatos que emocionam

No penúltimo dia de evento, dois relatos de experiência emocionaram o público. O primeiro, com o aluno egresso dos cursos Técnico Integrado em Saneamento e Bacharelado em Engenharia Civil do Câmpus Formosa, Rafael D’Abadia Melo; o segundo, com o professor do IFG, Lucas Evangelista Gonçalves.

Rafael, que tem baixa visão – 3% da acuidade visual – , explicou como se dá a percepção do deficiente visual e relatou como acontecia o processo de ensino-aprendizagem nas disciplinas técnicas no Câmpus. “O professor, naquela sala, a gente conversando, ele deu um giro de 360° olhando na sala e viu no cantinho uma caixa de papelão cheia de papel e arame. Foi na secretaria, pegou a tesoura, saiu cortando o papelão, furou e pediu minha mão para me mostrar o relevo de bacia hidrográfica que ele tinha feito para eu poder entender a declividade do terreno. Ele conseguiu desenvolver um material didático na nossa conversa para eu poder aprender”, narrou sobre a aula de Topografia.

“Percebi que em nenhum momento eu sou superior ou inferior a alguém, eu sou uma pessoa que tem as mesmas capacidades. O que muda? A dedicação que eu vou colocar naquele problema para poder resolver”, afirmou Rafael D’Abadia Melo.

A depressão profunda foi abordada no relato de Lucas. Para isso, ele fez uma breve revisão de biologia, justificando que a depressão é uma doença como todas as demais e que, por isso, não deve haver preconceito para com aquele que a desenvolve. De acordo com Lucas, a depressão profunda é uma doença que acomete o cérebro, pela deficiência de algumas substâncias do organismo presentes no órgão. “Se esforçar para entender é que vai deixar de ser tabu e vai facilitar o nosso tratamento, tanto o seu tratamento quanto o de quem você ama”, enfatizou.

Os eventos contaram com o apoio da UEG/Câmpus Nordeste e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de recursos da Chamada Pública SNCT 01/2023 do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e se encerraram na tarde de quinta-feira última, com um café e uma apresentação musical da banda Jaguaras, do Câmpus Formosa, no pátio do Bloco Acadêmico.

 

Em breve, fotos do evento na página do Câmpus Formosa no Facebook.

 

Coordenação de Comunicação Social/Câmpus Formosa