Estudante venezuelano da engenharia compartilha desafios após imigrar para o Brasil como refugiado
Em solo brasileiro, ele teve que refazer os níveis fundamental e médio para conseguir melhores oportunidades de trabalho
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Há cerca de um mês, Freddy José Heredia Villegas, de 43 anos, ingressou no curso de Engenharia de Controle e Automação, no IFG Câmpus Itumbiara. Venezuelano, natural de Porto Ordaz, ele veio para Goiás a trabalho. Mas até chegar ao Centro-Oeste do país, Freddy enfrentou muitos desafios e incertezas. É que em 2020, durante a pandemia, ele e a esposa deixaram o país de origem na condição de refugiados. Foi um período em que a dificuldade financeira era intensa e a Venezuela tinha altos índices de desemprego, falta de combustível, instabilidade política e escassez de alimentos.
Decididos a buscar refúgio no Brasil, Freddy e a esposa caminharam mais de 15 horas até conseguirem atravessar a fronteira em Roraima. No estado, eles foram assistidos pela Operação Acolhida* e permaneceram cerca de um ano vivendo em abrigo para refugiados e até em comunidade indígena. Foram dias difíceis e a esposa de Freddy ainda foi acometida por um câncer.
Mudança para Goiás
Quando ainda morava em Roraima, Freddy fez uma entrevista on-line e foi selecionado para JBS Couros, em Itumbiara. Ainda assim ele almeja um emprego na área de mecânica, a mesma em que atuava na Venezuela. Só que para isso ele precisaria apresentar certificados de escolaridade, e a dificuldade era que o reconhecimento dos documentos estrangeiros dele no Brasil poderia demorar meses ou até anos. Foi então que Freddy decidiu refazer o nível fundamental e o nível médio, via EJA, para ter diplomas brasileiros e acelerar a ascensão profissional que permitisse a ele ter mais segurança financeira caso fosse demitido.
Desde que chegou em Itumbiara, Freddy reside no Bairro Marolina, e ele conta que teve, literalmente, bater de porta em porta para procurar orientação com os vizinhos sobre onde encontrar mercado, posto de saúde, entre outras coisas. E que por um tempo fez um acordo com o proprietário do imóvel onde mora para pagar o aluguel com a prestação de serviço de eletricista.
Freddy fez cursos de mecânica no Senai, e essa rotina de qualificação se mantém até hoje. É que em paralelo à Engenharia de Controle e Automação que faz no IFG à tarde, ele faz um curso técnico de Sistemas e Programação de Software à noite, outra qualificação técnica em Eletromecânica na modalidade semipresencial. E ainda continua trabalhando na JBS pela noite e madrugada. E a esposa dele cursa Nutrição numa faculdade particular.
Morando em Itumbiara há quase dois anos, Freddy avalia a cidade como tranquila e sossegada; mas que situações de xenofobia (preconceito contra estrangeiros) acontecem com uma frequência quase diária. Além dessa diferença de tratamento, ele aponta que o mais difícil de morar aqui é o transporte público que é muito demorado e, por isso, ele e a esposa precisam se revezar para utilizar uma motocicleta ou transporte por aplicativo.
Perguntado se está feliz morando no Brasil depois de todos esses anos e desafios, Freddy José responde que está satisfeito, porém cansado. Ele relata que a rotina de trabalho e estudos é muito exaustiva e que não sobra tempo para fazer outras coisas. O estudante esclareceu também que todo esse esforço e dedicação são necessários para que ele possa ajudar financeiramente os pais idosos e outros dois filhos adolescentes que ficaram na Venezuela. Ele ainda revelou o desejo de que seus filhos mudassem para o Brasil para terem melhores oportunidades de estudo e emprego.
Sobre o IFG
Freddy, que tem o espanhol como língua nativa, conta que no Brasil fez curso de Língua Portuguesa e tem mais facilidade para compreender o idioma lendo do que ouvindo, e que eventualmente faz uso de aplicativos de tradução para se comunicar melhor com os brasileiros. Apesar dessa barreira do idioma, ele decidiu se arriscar participando do processo seletivo do Vestibular IFG, onde conquistou uma vaga no Instituto Federal de Goiás ao fazer uma prova de redação.
Estudando no Câmpus Itumbiara há cerca de um mês, ele disse que tem gostado muito do Instituto, e tem tido mais afinidade com as disciplinas de Cálculo I e Geometria Análitica, inclusive alcançado boas notas. Muito dedicado aos estudos, Freddy salientou várias vezes que não entende como alguns brasileiros não valorizam as oportunidades que tem de estudar gratuitamente em boas instituições de ensino e ainda receber bolsas de estudo. Na visão dele, no país sobram vagas de emprego, mas muitas pessoas não buscam progredir. E que se para ele, que é estrangeiro, foi possível, para os brasileiros seria ainda mais fácil se eles estivessem mais interessados.
Rede Federal e imigrantes
A professora de Língua Portuguesa e de Língua Espanhola do Câmpus Itumbiara, Dalva Ramos, explica que “para acolhimento dos imigrantes e refugiados, programas e ações de acesso, permanência e êxito estão sendo desenvolvidos nos Institutos Federais e nas universidades, com o intuito de propiciar a formação educacional e a inclusão social” por meio de cursos de português, redes de apoio e campanhas de sensibilização e valorização da cultura estrangeira.
A docente salienta que essas ações são benéficas não só para os imigrantes, como também para a diversidade linguístico-cultural e formação humana integral de toda a comunidade acadêmica. Sobre o aluno, a professora apontou que ele demonstra “ser um estudante responsável, interessado e dedicado, buscando meios de progredir nos estudos e no trabalho” desde o início das aulas.
* Operação Acolhida
A Venezuela fica localizada no norte da América do Sul e continua enfrentando situação de emergência econômica e até crise energética.
Segundo publicação da Agência Brasil (da Empresa Brasil de Comunicação - EBC), em 2024, o Brasil recebeu 194.331 migrantes, sendo a maioria (94.726 pessoas) da Venezuela. Esses cidadãos solicitaram abrigo com a justificativa de estudo, missão religiosa, fixação de residência, reunião familiar e trabalho e investimento; além dos pedidos de reconhecimento da condição de refugiado. *A principal entrada deles ocorre pelo estado de Roraima, onde são recebidos pela “Operação Acolhida, resposta humanitária que oferece suporte ao deslocamento voluntário, seguro e organizado de populações refugiadas e migrantes.”
Saiba mais sobre a migração de Venezuelanos no site da Agência Brasil: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-02/brasil-recebeu-194331-migrantes-em-2024
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Setor de Comunicação Social e Eventos - Câmpus Itumbiara.
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